quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Metade - Oswaldo Montenegro

"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca,
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada,
Mesmo que distânte.
Porque metade de mim é partida,
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com frevor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos,
Porque metade de mim é o que ouço,
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço.
E que essa tensão que me corrói por dentro,
Seja um dia recompensada,
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável,
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro de ter dado na infância,
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,
Porque metade de mim é abrigo,
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia,
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor,
E a outra metade... também."
Do fundo de mim,
para a minha metade.
Love, H. (em fase de mudança)